Pragmática é um ramo dos estudos linguísticos que considera os aspectos extratextuais ou contextuais na produção de significado de um texto. Já a semântica é uma área dos estudos linguísticos ou gramaticais que considera os aspectos textuais ou linguísticos na produção de sentido de um texto. Assim, semântica e pragmática são complementares.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre pragmática
- 2 - O que é pragmática?
- 3 - O que é ser pragmático?
- 4 - O que a pragmática estuda?
- 5 - Exemplos de pragmática
- 6 - Diferenças entre semântica e pragmática
- 7 - Exercícios resolvidos sobre pragmática
Resumo sobre pragmática
- A pragmática é uma área dos estudos linguísticos que focaliza a situação comunicativa.
- Ela estuda o processo de construção de sentido relacionado a elementos contextuais ou extralinguísticos.
- A semântica estuda o processo de construção de sentido relacionado a elementos textuais ou linguísticos.
O que é pragmática?
A pragmática é um ramo dos estudos linguísticos que tem como foco entender a construção de sentido ou significado com base em fatores ou elementos extralinguísticos ou situacionais.
O que é ser pragmático?
Há algumas formas de se interpretar o sentido da expressão “ser pragmático”:
- agir conforme a pragmática, ou seja, de acordo com as regras ou o protocolo;
- ser prático;
- ser comum ou habitual;
- valorizar a praticidade e a utilidade;
- descrever o uso da língua nas várias situações comunicativas.
Veja também: Quais são os elementos envolvidos na comunicação?
O que a pragmática estuda?
A pragmática estuda a formação de sentido ou de significado relacionada ao contexto de produção ou recepção de um texto. Desse modo, considera, na produção de sentido, não só elementos linguísticos, mas, principalmente, fatores extralinguísticos ou situacionais.
Exemplos de pragmática
Veja este enunciado:
A professora explicou para sua aluna Marília porque ela tirou zero na prova.
O pronome “ela”, no plano linguístico, pode tanto estar se referindo a Marília quanto à professora. No entanto, o(a) receptor(a) dessa mensagem vai entender que “ela” se refere a Marília e não à professora. Isso porque tal receptor(a), além de seus conhecimentos linguísticos, também tem um conhecimento de mundo.
Portanto, sabe que, na relação entre uma professora e sua aluna, tirar zero em uma prova é uma ação atribuída à aluna e não à professora. Sem esse conhecimento prévio, o(a) receptor(a) pode ficar confuso(a), sem saber a quem o pronome “ela” faz referência. Temos aí um exemplo de análise pragmática, pois considera a situação comunicativa.
Agora veja:
A professora explicou à sua aluna Marília por que ela elaborou uma prova tão difícil.
Nesse caso, o conhecimento de mundo do(a) receptor(a) da mensagem lhe permite entender que “ela” faz referência à professora e não a Marília, já que é essa profissional da educação que elabora uma prova e não sua aluna. Novamente, é o contexto que auxilia o(a) receptor(a) no entendimento da mensagem.
Por fim, imagine a seguinte situação. Um súdito se dirige a um monarca e lhe diz: “Vossa Majestade, sou seu mais fiel servidor”. Agora imagine que esse mesmo súdito esteja conversando com seu cãozinho de estimação e, entre amigos, diga: “Vossa Majestade, o senhor não pode dormir dentro de casa”.
Os amigos vão achar engraçado e rir da situação, já que o súdito chamou um animal de estimação de “Vossa Majestade”, tratamento solene reservado a um monarca. O riso advém do entendimento da ironia feita pelo súdito. Se os amigos do súdito não conhecem o significado de “Vossa Majestade” ou seu contexto de uso, podem achar que esse é o nome do cãozinho.
Diferenças entre semântica e pragmática
A semântica é o ramo dos estudos linguísticos ou gramaticais que estuda o processo de construção de sentido ou significado de um texto por meio de elementos linguísticos. Já a pragmática se debruça sobre a situação de comunicação, ou seja, estuda o contexto de produção e recepção textuais.
Assim, Mário Perini relaciona a semântica a um “significado literal” e dá o seguinte exemplo. Se alguém pergunta “Você sabe que horas são?”, a resposta, levando em conta o “significado literal”, é “sim” ou “não”. Afinal, um dos interlocutores, literalmente, quer saber se o outro sabe ou não que horas são.

Porém, se o interlocutor considera outros fatores que não só o linguístico, ele constrói o sentido da pergunta também pelo contexto ou situação. Assim, ele percebe que o outro não tem relógio e quer saber que horas são. Com base nesse entendimento pragmático, o interlocutor responde que “São duas horas”, por exemplo.
Saiba mais: Sentido denotativo x sentido conotativo — qual a diferença?
Exercícios resolvidos sobre pragmática
Questão 1 (Enem)
Senhora
— Mãe, noooosssa! Esse seu cabelo novo ficou lindo! Parece que você é, tipo, mais jovem!
— Jura, minha filha? Obrigada!
— Mas aí você vira de frente e aí a gente vê que, tipo, não é, né?
— Coisa linda da mamãe!
Esse diálogo é real. Claro que achei graça, mas o fato de envelhecer já não é mais segredo para ninguém.
Um belo dia, a vendedora da loja te pergunta: “A senhora quer pagar como?” Senhora? Como assim?
Eu sempre fui a Marcinha! Agora eu sou a dona Márcia! Sim, o porteiro, o motorista de táxi, o jornaleiro, o garçom, o mundo inteiro resolveu ter um respeito comigo que eu não pedi!
CABRITA, M. Disponível em: www.brasilescola-uol-br.atualizarondonia.com. o em: 11 ago. 2012 (fragmento).
A exploração de registros linguísticos é importante estratégia para o estabelecimento do efeito de sentido pretendido em determinados textos. No texto, o recurso a diferentes registros indica
A) mudança na representação social do locutor.
B) reflexão sobre a identidade profissional da mãe.
C) referência ao tradicionalismo linguístico da autora do texto.
D) elogio às situações vivenciadas pela personagem mãe.
E) compreensão do processo de envelhecimento como algo prazeroso.
Resolução:
Alternativa A.
A mudança na representação social do locutor acarreta um novo registro, ou seja, uma variedade linguística formal: a autora a a ser chamada de “senhora”, pois já não é mais jovem. Portanto, a faixa etária da interlocutora é um elemento contextual que interfere no processo de comunicação. Se uma jovem fosse chamada de “senhora”, isso pareceria estranho e fora de contexto.
Questão 2 (Enem)

A tirinha faz referência a uma situação muito comum nas famílias brasileiras: a necessidade de estudar para o vestibular. Buscando convencer o seu interlocutor, os personagens da tira fazem uso das seguintes estratégias argumentativas:
A) Comoção e chantagem.
B) Comoção e ironia.
C) Intimidação e chantagem.
D) Intimidação e sedução.
E) Sedução e ironia.
Resolução:
Alternativa C.
Na tirinha, o “significado literal” é: “não vou estudar para o vestibular”, “tua mesada está suspensa por três anos” e “onde enfiei essas malditas apostilas?”. No aspecto pragmático, percebemos, pelo nosso conhecimento de mundo, que a mesada vai ser suspensa porque o adolescente não quer estudar para o vestibular e que ele quer saber onde estão as apostilas para estudar e não perder a mesada. Essas conclusões não estão explícitas no texto verbal, ou seja, no nível linguístico, mas sim na percepção extralinguística do(a) leitor(a) da tirinha, que identifica a intimidação e a chantagem presentes nessa situação comunicativa.
Fontes
PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. 4. ed. São Paulo: Ática, 2002.
PRAGMÁTICO. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/pragmático.
