Madame Bovary é um romance do escritor francês Gustave Flaubert. A obra é a fundadora do realismo europeu. Assim, tem como principal temática o adultério e uma visão antirromântica. A narrativa conta a história da sonhadora Emma, leitora de livros românticos e incapaz de lidar com a realidade monótona do casamento.
Em função disso, ela se torna amante de Rodolphe e, em seguida, do jovem Léon. Ainda assim, Emma Bovary não consegue alcançar a felicidade das heroínas românticas. Endividada e infeliz, ela se suicida. Após sua morte, Charles Bovary descobre a infidelidade da esposa ao encontrar as cartas de seus dois amantes.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Madame Bovary
- 2 - Análise da obra Madame Bovary
- 3 - Características da obra Madame Bovary
- 4 - Madame Bovary foi proibido?
- 5 - Contexto histórico da obra Madame Bovary
- 6 - Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary
Resumo sobre Madame Bovary
- Madame Bovary é um romance escrito por Gustave Flaubert.
- É uma narrativa realista, de caráter antirromântico.
- A obra conta a história de Emma Bovary, uma jovem sonhadora que, em busca da felicidade, acaba traindo seu marido.
- Emma Bovary é casada com Charles Bovary.
- Ela é uma leitora de obras românticas e se deprime com a vida de casada.
- Em busca da felicidade prometida nos romances, Emma se envolve com o jovem Léon e, em seguida, se torna amante do galanteador Rodolphe.
- Com o fim desse caso extraconjugal, ela fica deprimida até reencontrar Léon.
- O jovem Léon e Emma se tornam amantes, mas esse relacionamento também chega ao fim.
- Endividada, deprimida e infeliz, Emma Bovary se mata ao tomar veneno.
- Após sua morte, Charles Bovary encontra as cartas de seus dois amantes e descobre que foi traído.
Análise da obra Madame Bovary
→ Personagens de Madame Bovary
- Artémise: criada da estalagem
- Berthe: filha de Charles e Emma
- Binet: tesoureiro
- Bournisien: padre
- Canivet: médico
- Derozerays: presidente do júri
- Emma Bovary: protagonista, esposa de Charles Bovary
- Felicité: criada da casa de Charles Bovary
- Guillaumin: tabelião
- Hareng: oficial de diligências
- Héloise Dubuc: primeira esposa de Charles
- Hippolyte: funcionário da estalagem
- Hivert: entregador
- Homais: farmacêutico
- Justin: aprendiz de farmácia
- Larivière: médico
- Lefrançois: viúva dona de uma estalagem
- Léon Dupuis: escriturário e amante de Emma
- Lestiboudois: sacristão
- Lheureux: lojista
- Lieuvain: conselheiro
- Marquês de Andervilliers
- Natasie: criada da casa de Charles Bovary
- Prior: sacerdote
- Rodolphe: amante de Emma Bovary
- Rolet: ama, esposa do marceneiro
- Tellier: dono do Café Francês
- Théodore Rouault: pai de Emma
- Tuvache: presidente da Câmara
- Vinçart: banqueiro
→ Tempo da obra Madame Bovary
O romance tem tempo cronológico. Já a época em que os fatos narrados ocorrem é a primeira metade do século XIX.
→ Espaço da obra Madame Bovary
A narrativa se a na França, em lugares como Ruão, Tostes e Yonville.
→ Narrador da obra Madame Bovary
A obra conta com um narrador onisciente, consciente de todos os detalhes, sabedor dos anseios de cada personagem e de seu universo interior.
→ Qual é o enredo de Madame Bovary
O pequeno Charles Bovary tem aproximadamente 13 anos quando é enviado para estudar no colégio de Ruão. Ali mantém notas médias. Depois, os pais o mandam estudar medicina. Mas o rapaz se entrega à ociosidade e a a frequentar uma taberna. Por isso, “fracassou completamente no seu exame de oficial de saúde”.
O rapaz então resolve estudar e acaba ando no exame, “com uma nota razoável”. Com a ajuda da mãe, consegue um emprego como médico em Tostes. A mãe também lhe arranja um casamento com uma viúva de 45 anos, que tem “duzentas libras de rendimento”. Porém, a senhora Dubuc, sua esposa, controla o rapaz completamente.
Ao atender um paciente em outra localidade, Charles conhece a sua filha, uma jovem chamada Emma. Logo depois, Charles fica viúvo. Então, ele se casa novamente, agora com a jovem Emma. Emma vai morar com seu marido em Tostes. Assim, tem início o infeliz drama de Emma Bovary:
Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, lhe haviam parecido tão belas.
Isso porque Emma gosta de ler livros românticos como Paulo e Virgínia, de Bernardin de Saint-Pierre. Acostumada à fuga da realidade, acaba se desencantando com a realidade da vida de casada. Em certa ocasião, o casal se dirige a Vaubyessard, onde são recebidos por um marquês e uma marquesa, e Emma vivencia todo o luxo da nobreza.
Porém, precisa voltar para sua vida simples e monótona. Mas sempre vai recordar o baile na casa do marquês. Emma despede a criada Natasie e contrata a jovem Félicité. Com o tempo, a vida de casada a enfastia mais e mais, fica irritada com os hábitos do marido. Emma adoece, e o marido a leva a Ruão, onde é diagnosticada com “uma doença nervosa”.
Por isso, é aconselhável mudar de ares. Então se mudam para Yonville. Por essa época, Emma fica grávida. Em Yonville, jantam na estalagem da senhora Lefrançois. Ali Emma conhece o jovem Léon Dupuis. Em seguida, o casal vai para a sua nova casa. Meses depois, Emma dá à luz uma menina, de nome Berthe. Ela se apaixona por Léon, que também demonstra interesse por ela.
Mas Emma está infeliz:
Então, os apetites da carne, as cobiças do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo se confundia num mesmo sofrimento, e, em vez de procurar afastar daí o pensamento, ainda mais se prendia ao mesmo, excitando-se à dor e procurando para isso todas as ocasiões. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lastimava-se pelo veludo que lhe faltava, pela felicidade que não tinha, por as suas aspirações serem demasiado elevadas e por a casa ser acanhada demais.
Enquanto isso, Léon sonha em viver em Paris e de fato se muda para lá. Então, Emma se afunda ainda mais na tristeza:
Como no regresso de Vaubyessard, quando as quadrilhas se lhe agitavam em turbilhão na cabeça, sentia agora uma melancolia taciturna, um desespero entorpecido. Léon ressurgia-lhe mais alto, mais belo, mais suave, mais vago; embora separado dela, não a abandonara; ali estava ele e as paredes da casa pareciam conservar-lhe ainda a sombra. Não podia despegar a vista daquela alcatifa que ele pisara, daquelas cadeiras vazias onde se sentara. O rio continuava a correr, empurrando lentamente as suas minúsculas vagas ao longo da margem escorregadia.
Além da tristeza, está pálida e desmaia com frequência. Até que chega à cidade Rodolphe Boulanger de la Huchette, que vai até a casa do doutor para uma sangria. Ele acaba se encantando por Emma:
Rodolphe Boulanger tinha trinta e quatro anos; possuía um temperamento agressivo e uma inteligência perspicaz, além de ter conhecido muitas mulheres, no que se tornara um especialista. Aquela parecera-lhe bonita; pensava já nela e no marido.
Assim, Emma Bovary e Rodolphe se tornam amantes. Ela se sente como as heroínas dos livros que leu. Sua paixão por Rodolphe é tanta que Emma começa a ser imprudente. Rodolphe acaba se afastando, vai embora para Ruão. Emma sofre desmaios, tem febre e delírios, é diagnosticada com “febre cerebral”.
Durante 43 dias, Charles Bovary abandona os doentes para cuidar da esposa. Por fim, ela se recupera. Então Emma reencontra Léon. Ela e o rapaz se tornam, finalmente, amantes. Eles se encontram em Ruão, no Hotel de Bolonha. Mas sua felicidade extraconjugal é interrompida pela dívida que Emma Bovary acumulou junto ao lojista Lheureux.
Para complicar, a mãe de Léon recebe uma longa carta anônima que revela que o filho está tendo um relacionamento amoroso com uma mulher casada. Endividada, Emma pede ajuda ao amante: “[...], lhe expôs o seu infortúnio, porque Charles não sabia de nada, a sogra detestava-a, [...], mas ele, Léon, iria pôr-se em campo para encontrar aquela soma indispensável...”.
Então termina seu romance com Léon. Emma decide pedir ajuda a Rodolphe, quer um empréstimo de três mil francos. Ele diz não ter tal quantia, e Emma fica revoltada com a recusa. Por fim, decide tomar arsênico, agoniza e morre, provocando imenso sofrimento no marido.

Até que um “dia em que, errando pela casa sem qualquer objetivo, [Charles] subira ao sótão, sentiu, debaixo do chinelo, uma bola de papel amarrotado. Desenrolou-a e leu: ‘Coragem, Emma! Tenha coragem! Não quero fazer a infelicidade da sua existência’. Era uma carta de Rodolphe”. Também encontra as cartas de Léon. E, assim, o ingênuo Charles Bovary descobre que foi traído.
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Características da obra Madame Bovary
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Estrutura da obra Madame Bovary
Madame Bovary apresenta três partes. A primeira parte tem nove capítulos. A segunda, 15 capítulos, e a terceira, 11 capítulos.
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Estilo literário de Madame Bovary
O romance Madame Bovary é o fundador do realismo europeu. Publicada, pela primeira vez, em 1856, a obra apresenta caráter antirromântico ao mostrar a tragédia de Emma Bovary, personagem fascinada por romances românticos e que não consegue encarar a realidade. Portanto, a obra não apresenta sentimentalismo, faz crítica ao modo de vida burguês e chocou a sociedade da época ao falar do adultério feminino.
Madame Bovary foi proibido?

O livro Madame Bovary não foi proibido. No final de 1856, Flaubert foi acusado de, por meio desse romance, atentar contra os bons costumes e a religião. Processado, foi a julgamento no início de 1857, mas terminou sendo absolvido. O romance tinha sido publicado na Revue de Paris, no ano anterior. Assim, em 1857, saiu em forma de livro e, devido ao escândalo do julgamento, fez estrondoso sucesso.
Contexto histórico da obra Madame Bovary
Napoleão Bonaparte (1769-1821) esteve no poder de 1799 a 1815. Seu governo ocorreu após a Revolução sa, ocorrida em 1789, quando houve a ascensão da classe burguesa na Europa. Líder militar, Bonaparte (ou imperador Napoleão I) foi um líder autoritário apoiado pela elite burguesa, o qual teve o governo marcado por ideias iluministas e guerras expansionistas.
Um de seus sucessores, Luís Filipe I (1773-1850), teve o governo marcado por rebeliões e pelo fortalecimento do movimento republicano, que levou à sua abdicação em 1848, quando Napoleão III (1808-1873) instituiu a república. Napoleão III foi responsável pela modernização de Paris, pelo estímulo às artes e, depois do breve período republicano, pela restauração da monarquia.
Além disso, a Europa estava vivenciando a Revolução Industrial, responsável pela aceleração dos processos de produção, o que alterou as relações de trabalho, acentuou o poder da classe burguesa e os problemas sociais, preparando o terreno para o capitalismo. Nesse contexto, a idealização romântica não fazia mais sentido para os autores, que buscaram então retratar a inevitável realidade.
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Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary

Gustave Flaubert nasceu em Rouen, na França, no dia 12 de dezembro de 1821. Filho de um cirurgião, o jovem Flaubert iniciou o curso de medicina por volta de 1842, mas acabou perdendo o interesse. Dois anos depois, suas crises epiléticas tiveram início. Em 1846, com a morte da irmã, o autor adotou sua sobrinha recém-nascida.
Teve alguns amores, viajou ao Oriente, e, por fim, publicou sua obra-prima, isto é, o romance Madame Bovary. A obra lhe rendeu um processo judicial — o autor foi acusado de atentar contra a moral e a religião. Absolvido, obteve grande sucesso como escritor. Mas estava com dificuldades financeiras quando faleceu, em 8 de maio de 1880, em Croisset.
Créditos da imagem
[1] Editora Companhia das Letras (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
BRASIL ESCOLA. Rei Luís Filipe I da França. Disponível em: /biografia/luis-filipe-franca.htm.
DEBOM, Paulo. As apoteoses de Napoleão III: um estudo sobre imagem e poder. Dia-Logos, Rio de Janeiro, n. 6, out. 2012.
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução de Fernanda Ferreira Graça. Mem Martins: Europa-América, 2000.
LECLERC, Yvan. Chronologie détaillée. Disponível em: https://flaubert.univ-rouen.fr/qui-était-flaubert/chronologies-de-la-vie-de-flaubert/chronologie-détaillée/.
SILVA, Daniel Neves. Era Napoleônica. Disponível em: /historiag/era-napoleonica.htm.
SILVA, Daniel Neves. Revolução Industrial: o que foi, resumo, fases. Disponível em: /historiag/revolucao-industrial.htm.