Carlos Marighella nasceu em Salvador, em 1911, em uma família de origens italiana e africana, e desde jovem demonstrou interesse por questões sociais, desenvolvendo uma visão crítica das desigualdades brasileiras, o que o levou a ingressar na militância política. Casado com Clara Charf, que o apoiou em sua luta revolucionária, Marighella teve um filho, Carlos Augusto, mas sua vida familiar foi marcada por longos períodos de clandestinidade devido ao seu intenso envolvimento político. 123l36
Ele iniciou sua carreira no Partido Comunista Brasileiro em 1934 e, décadas depois, fundou a Ação Libertadora Nacional, adotando a guerrilha urbana como estratégia contra a Ditadura Militar. Sua atuação como ativista foi influenciada por movimentos revolucionários internacionais, e ele defendia o uso da luta armada para mobilizar a população e desafiar o regime autoritário.
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Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911, em uma família de origens multiculturais. Seu pai, Augusto Marighella, era um imigrante italiano que havia chegado ao Brasil em 1907, enquanto sua mãe, Maria Rita do Nascimento, era uma mulher negra e descendente de africanos escravizados, nascida em 1888, ano da abolição da escravatura.
Essa mistura de raízes italianas e africanas influenciou a formação cultural e social de Marighella, que cresceu consciente das complexidades e injustiças da sociedade brasileira. A convivência em uma família de condições econômicas modestas permitiu que ele experimentasse desde cedo a dura realidade enfrentada pelas camadas mais pobres da sociedade.
Durante sua infância e juventude, Marighella foi incentivado a estudar, demonstrando desde cedo notável interesse por leitura e uma forte inclinação intelectual. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, ele completou o ensino primário e secundário, e foi aprovado no exame para ingressar no curso de Engenharia Civil na Escola Politécnica da Bahia.
Durante sua vida acadêmica, destacou-se não apenas pela habilidade em matemática e ciências exatas, mas também pelo talento para escrever. Suas respostas a provas frequentemente eram compostas em versos, evidenciando sua habilidade poética. Esse período foi crucial para o despertar de sua consciência política e social, pois Marighella começou a questionar as desigualdades da sociedade brasileira e a importância de lutar contra as injustiças.
Carlos Marighella teve um relacionamento importante com Clara Charf, uma companheira que, assim como ele, envolveu-se profundamente na militância política. Clara se tornou uma figura de apoio crucial, especialmente durante os anos de clandestinidade em que ambos estavam expostos aos riscos impostos pelo regime militar.
A relação entre Marighella e Clara foi marcada por um forte vínculo afetivo e ideológico, compartilhando ideais de liberdade e justiça social. Clara também sofreu com a repressão, sendo perseguida e ameaçada, mas se manteve firme ao lado de Marighella.
Carlos Marighella e Clara Charf tiveram um filho, Carlos Augusto Marighella. A vida familiar de Marighella foi fortemente impactada pelas exigências de sua militância. Embora mantivesse uma ligação afetiva intensa com sua família, Marighella precisou ar longos períodos afastado devido à sua atuação revolucionária, especialmente durante os anos em que esteve na clandestinidade.
Essa realidade de distanciamento e exposição aos perigos da repressão marcou profundamente sua vida pessoal e a de seus familiares.
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A trajetória política de Marighella começou em 1934, quando ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), uma decisão que definiu o rumo de sua vida. No PCB, Marighella encontrou um espaço para consolidar suas ideias revolucionárias e sua oposição ao governo de Getúlio Vargas, que havia instaurado um regime autoritário.
Em 1936, ele foi preso pela primeira vez após ter publicado um poema criticando o governo, o que evidenciava sua disposição para enfrentar o autoritarismo e a censura. Durante sua prisão, foi submetido a torturas, um episódio que aprofundou seu compromisso com a causa revolucionária.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial e a redemocratização do Brasil, Marighella foi eleito deputado federal pela Bahia em 1946. No Parlamento, representou o PCB e foi um defensor fervoroso das causas populares, lutando pelos direitos dos trabalhadores e pela reforma agrária. Contudo, seu mandato foi interrompido pela cassação do PCB em 1947, quando o partido foi novamente colocado na ilegalidade. Marighella permaneceu no PCB por mais de 30 anos, mas acabou rompendo com o partido devido a divergências sobre a forma de enfrentar o regime militar instaurado em 1964.
A partir de 1968, Marighella fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização revolucionária que defendia a luta armada como o caminho para combater a Ditadura e instaurar o socialismo no Brasil. A ALN tornou-se um dos principais grupos de resistência ao regime militar, realizando ações diretas contra o governo e adotando táticas de guerrilha urbana.
A decisão de fundar a ALN e adotar a luta armada como estratégia revolucionária marcou uma ruptura definitiva entre Marighella e o PCB, que defendia a via pacífica para a transformação social.
O ativismo de Marighella foi caracterizado por uma busca inabalável por justiça social e pelo fim das desigualdades estruturais no Brasil. Sua atuação tornou-se ainda mais intensa após o Golpe Militar de 1964, que instalou um regime de repressão e censura no país.
Ao fundar a ALN, Marighella ou a defender a guerrilha urbana como forma de mobilizar a população e desafiar o poder militar. Essa estratégia incluía assaltos a bancos, sequestros de diplomatas estrangeiros e ações de propaganda armada, cujo objetivo era desestabilizar o regime e atrair atenção internacional para a situação política no Brasil.
Um marco significativo de seu ativismo foi a publicação do “Manual do Guerrilheiro Urbano” em 1969, um texto que se tornou referência para grupos revolucionários no Brasil e na América Latina. No manual, Marighella delineava táticas e estratégias para a resistência armada em centros urbanos, instruindo militantes sobre como realizar emboscadas, sabotagens, assaltos e sequestros.
Ele enfatizava a necessidade de mobilizar o apoio popular e de criar uma rede de solidariedade entre os movimentos de resistência. Essa obra, inspirada nas experiências de guerrilhas em Cuba, na China e em outros países, consolidou Marighella como um dos principais teóricos da luta armada na América Latina.
Marighella também foi profundamente influenciado por figuras como Che Guevara e Fidel Castro, que haviam triunfado na Revolução Cubana e defendiam a luta armada como meio para alcançar a libertação dos povos da América Latina. Marighella acreditava que o Brasil precisava seguir um caminho similar para se libertar da exploração capitalista e da opressão imperialista. Assim, ele se tornou uma das figuras mais icônicas do ativismo político brasileiro, assumindo uma postura de liderança na luta pela liberdade e pelos direitos dos oprimidos.
Carlos Marighella é lembrado como um símbolo de resistência contra o autoritarismo e a injustiça social no Brasil. Durante os anos da Ditadura Militar, ele foi considerado um inimigo público, sendo perseguido implacavelmente pelas forças de segurança do regime, que o identificavam como o “terrorista mais procurado do país”.
Em 4 de novembro de 1969, Marighella foi emboscado e assassinado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em São Paulo, um ato que causou grande repercussão nacional e internacional, e intensificou as críticas ao regime. Entretanto, com o ar dos anos, a imagem de Marighella ou por uma transformação significativa. De “inimigo do Estado”, ele foi progressivamente revalorizado como um herói nacional, especialmente após o reconhecimento, por meio da Comissão Nacional da Verdade, da responsabilidade do Estado em sua morte e da violência praticada contra ele e outros opositores da Ditadura.
Homenagens a Marighella foram realizadas em diversas partes do Brasil, e ele se tornou um ícone da resistência democrática. Sua trajetória, marcada pela coragem e pelo compromisso com a luta por uma sociedade mais justa, inspira novas gerações a refletirem sobre os ideais de liberdade e justiça social.
A figura de Marighella transcende o contexto brasileiro, representando um marco para os movimentos revolucionários da América Latina. Sua atuação é lembrada não apenas como uma resposta à repressão militar no Brasil, mas como parte de um movimento global de resistência ao imperialismo e ao autoritarismo. Em seu legado, permanece a visão de que é possível transformar a sociedade por meio de uma ação política consciente e comprometida, e que a luta pela liberdade é um direito fundamental de todos os povos.
A obra “Manual do Guerrilheiro Urbano” de Carlos Marighella, escrita em 1969, serviu como um guia prático para os revolucionários engajados na luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil. Nela, Marighella instrui sobre táticas de guerrilha urbana, técnicas de combate e estratégias de sobrevivência, buscando orientar grupos armados sobre como enfrentar as forças de repressão do regime.
A obra é emblemática por sua clareza na defesa de uma abordagem de enfrentamento direto e por refletir os ideais comunistas revolucionários de Marighella, que critica a "democracia burguesa" e defende uma “democracia revolucionária” que promove a redistribuição de recursos e a justiça social.
O manual contém orientações práticas sobre o uso de armas, preparo físico, técnicas de sobrevivência e fuga, mostrando a necessidade de disciplina, resiliência e habilidade técnica para o guerrilheiro urbano. Marighella vê o guerrilheiro urbano como um elemento essencial no processo de transição para uma “sociedade justa”.
Ele propõe que o guerrilheiro urbano direcione suas ações contra os monopólios estrangeiros e os que lucram às custas do alto custo de vida e dos salários baixos, afirmando que essas ações ajudam a mostrar o compromisso com a causa popular.
Carlos Marighella foi assassinado em 4 de novembro de 1969, em uma emboscada organizada pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. A operação, liderada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, contou com a colaboração de dois freis dominicanos que, sob pressão e tortura, foram forçados a fornecer informações sobre o paradeiro de Marighella.
O revolucionário estava em situação de clandestinidade desde a fundação da Ação Libertadora Nacional (ALN), sua organização de resistência armada contra a Ditadura Militar brasileira, e vinha sendo intensamente perseguido pelo regime, que o identificava como um dos principais líderes da guerrilha urbana no país.
A emboscada foi cuidadosamente planejada pelas forças de repressão. Marighella foi atraído para um ponto de encontro sob o pretexto de uma reunião com outros militantes. Quando ele chegou ao local, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, a polícia já estava posicionada para interceptá-lo. O líder revolucionário foi cercado e, sem chance de reagir, foi alvejado diversas vezes, falecendo no local.
A versão oficial do Dops foi de que Marighella teria resistido à prisão, o que teria levado à troca de tiros e a sua morte. No entanto, investigações e depoimentos posteriores indicam que ele foi surpreendido e morto sem a possibilidade de se defender.
A morte de Marighella foi amplamente divulgada pela imprensa, que, em grande parte, alinhava-se à narrativa oficial da Ditadura Militar, apresentando-o como um “terrorista” perigoso. As reportagens de jornais e revistas do período reforçaram a visão do regime sobre Marighella como um inimigo da pátria, colocando-o como responsável por uma série de ações subversivas e atribuindo-lhe o rótulo de “inimigo público número um”.
Contudo, após a redemocratização do Brasil, a imagem de Carlos Marighella ou por uma ressignificação. Investigações realizadas pela Comissão Nacional da Verdade e outros esforços de reavaliação histórica apontaram que ele foi vítima de uma execução extrajudicial, organizada e levada a cabo pelo Estado brasileiro como parte de uma política de repressão violenta contra opositores.
Em 2011, na comemoração do centenário de seu nascimento, Marighella foi oficialmente reconhecido como um símbolo de resistência contra o regime militar, e sua trajetória foi celebrada por setores de esquerda e movimentos sociais, que buscaram reivindicar sua memória como a de um herói da luta pela justiça social no Brasil.
A morte de Marighella se tornou, assim, um marco na história de resistência à Ditadura no Brasil. Além de evidenciar a violência praticada pelo Estado contra militantes políticos, seu assassinato serviu para consolidar sua figura como um ícone da luta contra o autoritarismo. Mesmo décadas após sua morte, Carlos Marighella continua a inspirar movimentos sociais e organizações que defendem a memória daqueles que enfrentaram a repressão em nome de ideais democráticos e de justiça social.
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Carlos Marighella, por sua trajetória de resistência e luta contra a Ditadura Militar brasileira, tornou-se uma figura emblemática da cultura popular, inspirando obras cinematográficas, documentários e músicas. A seguir, apresento um panorama sobre como ele é retratado em filmes e músicas.
Créditos das imagens
[1] Marianne Tortorella/ Shutterstock
[2] Editora Andadé (reprodução)
[3] Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
MARIGHELLA, Carlos. Manual do guerrilheiro urbano. Disponível em: http://rfp.org.uk/textos/impub_c.marighella_manual_do_guerrilheiro_urbano.pdf.
ROLLEMBERG, Denise. Marighella e Lamarca: memórias. Disponível em: https://brasilescola-uol-br.atualizarondonia.com/perly/a_pdf/rollemberg_marighella_lamarca_memorias.pdf.
SIZILIO, Ricardo José. Vai, Carlos, ser Marighella na vida: outro olhar sobre os caminhos de Carlos Marighella na Bahia (1911-1945).
Fonte: Brasil Escola - /historia/carlos-marighella.htm