O férmio é um elemento químico sintético transurânico, de símbolo Fm e número atômico 100, pertencente à série dos actinídeos, altamente radioativo e não ocorre naturalmente na crosta terrestre. Em solução aquosa, ele forma complexos com diversos ligantes e, como outros elementos pesados, pode ser tóxico. Nesse contexto, a eletronegatividade dele é relativamente baixa, com um valor de 1,3 na escala de Pauling, indicando uma moderada tendência em atrair elétrons. Ademais, devido à sua radioatividade, ele é utilizado principalmente para fins de pesquisa científica, não possuindo aplicações práticas comerciais. c51g
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O férmio, como um metal actinídeo, é um elemento pesado e sólido à temperatura ambiente. Embora muitos detalhes sobre suas características físicas sejam desconhecidos devido à dificuldade de produção e à sua alta radioatividade, sabe-se que ele possui um ponto de fusão elevado, estimado em cerca de 1527°C. Nesse sentido, sua configuração eletrônica sugere que ele possui uma disposição complexa dos elétrons nos orbitais f, característica comum dos actinídeos, que resulta em propriedades metálicas típicas, como a capacidade de conduzir eletricidade e calor.
Além disso, em meio aquoso ele existe na forma iônica Fm3+, com um estado de oxidação +3, e pode formar complexos com nitrato, cloreto e outros ligantes orgânicos, bem como coprecipitar hidróxidos e fluoretos. Em contrapartida, dados específicos sobre sua densidade, ponto de ebulição e estrutura cristalina permanecem em grande parte não elucidados devido ao fato de não ser produzido em quantidades extremamente pequenas, tornando difícil a caracterização detalhada de suas propriedades físicas.
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Devido à sua natureza sintética, o férmio é encontrado exclusivamente em laboratórios, já que não ocorre e não está disponível na natureza. Diante disso, ele tem sido produzido em aceleradores de partículas, onde átomos de elementos mais leves são bombardeados com partículas para criar núcleos de férmio.
O férmio é obtido através de processos nucleares em reatores ou aceleradores de partículas, cuja produção envolve a captura de nêutrons por núcleos de elementos mais leves, como o urânio ou o plutônio, que em seguida sofrem uma série de decaimentos beta, resultando na formação de núcleos desse elemento. Esse processo ocorre em ambientes de alta radiação, onde nêutrons são abundantes, como em reatores nucleares de alta potência ou em explosões termonucleares controladas, e envolve as seguintes etapas:
Até aqui já deve ter ficado claro que o férmio ocorre exclusivamente de forma artificial, mas não se limita apenas a isso, visto que existem vários isótopos conhecidos, em um total de 21 variando em massa de 242 a 260, contudo todos são altamente radioativos e com meias-vidas relativamente curtas, sendo os mais comuns:
Vale ressaltar que esses isótopos são produzidos em quantidades extremamente pequenas, geralmente em picogramas, devido à dificuldade e complexidade do processo de produção.
As aplicações do férmio são extremamente limitadas devido à sua alta radioatividade e rápida desintegração. Por isso, estão restritas a contextos de pesquisa altamente especializados, em que seu comportamento raro e complexo pode ser estudado em detalhe, contribuindo para avanços no campo da física nuclear e da química de elementos pesados. Em meio a isso, podemos citar alguns exemplos do seu uso:
Devido à sua alta radioatividade, o férmio emite radiação alfa e, em alguns casos, pode também emitir radiação beta e gama. Embora as partículas alfa não penetrem profundamente na pele, elas são extremamente perigosas se inaladas ou ingeridas. Sendo assim, são necessárias algumas precauções durante o seu manuseio e armazenamento, como, por exemplo:
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A história do férmio começou em 1952, durante a análise dos produtos de uma explosão termonuclear realizada nos Estados Unidos. O elemento foi descoberto por uma equipe liderada por Albert Ghiorso, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, enquanto estudavam os resíduos deixados pela detonação da bomba de hidrogênio.
Nesse contexto, a descoberta foi feita de maneira indireta, pois os cientistas não tinham o direto aos resíduos da explosão. Em vez disso, eles examinaram materiais que tinham sido expostos a detritos radioativos transportados pela atmosfera, os quais foram então enviados para diversos laboratórios, onde a equipe de Ghiorso identificou novos elementos, incluindo o férmio.
A identificação do férmio como um novo elemento foi confirmada através de suas características de decaimento alfa, que diferiam dos elementos conhecidos na época. Nesse sentido, ele foi nomeado em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi, um dos principais desenvolvedores da Física Nuclear e conhecido por seu papel na construção do primeiro reator nuclear. O símbolo químico “Fm” foi atribuído ao elemento, e ele foi classificado como parte da série dos actinídeos, um grupo de elementos pesados e radioativos.
Desde sua descoberta, ele tem sido produzido apenas em pequenas quantidades, ou seja, sua obtenção é difícil pela raridade e dificuldade de produção, bem como pela alta radioatividade dos isótopos produzidos. Sendo assim, a pesquisa sobre esse elemento e seus isótopos é, portanto, limitada e foca principalmente estudos científicos e entender as propriedades dos elementos transurânicos, que ajudam a expandir o conhecimento sobre a estrutura nuclear e os limites da tabela periódica, contribuindo para a compreensão das forças que mantêm os núcleos atômicos coesos.
Fontes
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Fonte: Brasil Escola - /quimica/fermio-fm.htm