Quincas Borba é um romance realista de Machado de Assis. Conta a história de Rubião, um professor de Barbacena que herda os bens de seu amigo Quincas Borba, com a condição de cuidar do cão do falecido, que possui o mesmo nome do dono, ou seja, Quincas Borba. 3rt3d
O novo rico, então, se muda para o Rio de Janeiro e a a ser explorado por “amigos”, como o casal Sofia e Cristiano Palha. Assim, em meio a ironias, o narrador relata o gradual processo de enlouquecimento de Rubião, que, no final da história, acredita ser o imperador francês Luís Napoleão (1808-1873).
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Romance realista de 1891.
Autoria de Machado de Assis.
Critica à burguesia.
Apresenta narrador onisciente.
Espaço da narrativa: Rio de Janeiro.
Tempo da narrativa: século XIX.
Temática principal: jogo de interesses.
Angélica: comadre de Rubião.
Carlos Maria: amigo de Rubião.
Deolindo: menino salvo por Rubião.
D. Fernanda: prima de Carlos Maria.
D. Maria Augusta: tia de Sofia.
Dr. Camacho: amigo de Rubião.
D. Tonica: filha do major.
Freitas: amigo de Rubião.
Maria Benedita: prima de Sofia.
Maria da Piedade: irmã de Rubião.
Palha: marido de Sofia.
Quincas Borba: cão.
Quincas Borba: filósofo.
Rubião: protagonista.
Siqueira: o major.
Sofia: esposa de Cristiano Palha.
Teófilo: marido de D. Fernanda.
A narrativa se a na segunda metade do século XIX, mas o narrador especifica apenas estes anos:
1844: Camacho se forma em Direito.
1864: Cristiano Palha “adivinhou as falências bancárias”.
1867: período da enfermidade de Quincas Borba, o filósofo.
1870: Rubião recebe, em casa, um barbeiro que lhe deita abaixo as barbas “para lhe deixar somente a pera e os bigodes de Napoleão III”.
A ação acontece em Barbacena, no estado de Minas Gerais, e, principalmente, no bairro de Botafogo e do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro.
O livro começa quando Rubião já é um homem rico. Então, o narrador nos convida a voltar no tempo para entender como o protagonista chegou até ali: “Deixemos Rubião na sala de Botafogo, batendo com as borlas do chambre nos joelhos, e cuidando na bela Sofia. Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do Quincas Borba”.
Assim, descobrimos que, em Barbacena, Rubião tentou casar sua irmã com o amigo Quincas Borba, mas ela acabou morrendo. O professor, como único amigo de Quincas Borba, cuidou do enfermo durante quase seis meses. Porém, Rubião tinha um rival, o cão Quincas Borba, que também ocupava o coração do filósofo.
Com a morte do filósofo Quincas Borba, Rubião foi nomeado seu herdeiro universal. Nesse ponto, a leitora e o leitor sagazes desconfiam da generosidade de Rubião ao cuidar do amigo doente e rico. Porém, o testamento indicava uma condição para que Rubião recebesse a herança, isto é, cuidar do cachorro Quincas Borba.
Rico, o protagonista se mudou para o Rio de Janeiro. No trem, ele conheceu um desonesto casal: Sofia e Cristiano Palha. Durante a viagem, o ex-professor acabou revelando ser um herdeiro. A partir de então, o casal iniciou uma forte amizade com Rubião, e Sofia, com o aval de Palha, ou a seduzir o novo rico, com o intuito de receber benefícios financeiros para o marido.
Assim, o narrador chega ao início do livro — quando Rubião está na sala de Botafogo — e a a narrar a partir do “mesmo lugar em que o deixamos sentado, a olhar para longe, muito longe”. Então, apresenta os dois novos amigos do protagonista: o vaidoso Carlos Maria e o bajulador Freitas. Além deles, Rubião faz amizade também com o interesseiro Camacho.
No caminho do escritório de Camacho, Rubião, num impulso, salva a vida do menino Deolindo. Seu ato de heroísmo acaba parando nas páginas de um jornal, o Atalaia. Isso desperta a vaidade do protagonista, que se entrega à falsa modéstia, pouco depois de conhecer Maria Benedita, a prima de Sofia.
Na sequência, percebemos um envolvimento amoroso entre Carlos Maria e Sofia, além de ficarmos sabendo da intenção de Palha em casar seu agora sócio Rubião com Maria Benedita. Nesse ponto da história, a loucura do protagonista começa a se manifestar. E quando alguns amigos, que têm o costume de jantar em sua casa, vão apertar sua mão, “Rubião teve aqui um impulso inexplicável, — dar-lhes a mão a beijar”.
No decorrer da narrativa, Maria Benedita, auxiliada por D. Fernanda, acaba se casando com Carlos Maria. Daí em diante, a loucura de Rubião se acentua, e ele a a acreditar que é o imperador francês Luís Napoleão. Então, quando é zombado na rua por algumas crianças, Rubião vivencia uma ironia do destino:
Um deles, muito menor que todos, apegava-se às calças de outro, taludo. Era já na Rua da Ajuda. Rubião continuava a não ouvir nada; mas, de uma vez que ouviu, supôs que eram aclamações, e fez uma cortesia de agradecimento. A surriada aumentava. No meio do rumor, distinguiu-se a voz de uma mulher à porta de uma colchoaria:
— Deolindo! vem para casa, Deolindo!
Deolindo, a criança que se agarrava às calças da outra mais velha, não obedeceu; pode ser que nem ouvisse, tamanha era a grita, e tal a alegria do pequerrucho, clamando com a vozinha miúda:
— Ó gira! ó gira!
A morte do protagonista também apresenta ironia, agora do narrador, que a relata desta maneira:
Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores palem a ilusão. Não, senhor, ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma expressão gloriosa.
— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor...
A cara ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação.
Dessa forma, o narrador menciona a abdicação do imperador francês como metáfora para a morte de Rubião, membro da elite burguesa, com mania de grandeza e a certeza de ser merecedor de sua fortuna. Tal atitude está de acordo com a filosofia de Quincas Borba — o Humanitismo —, exemplificada por meio de uma história fictícia sobre duas tribos que disputam um campo de batatas, o que dá origem à memorável frase: “Ao vencedor, as batatas”.
O narrador do romance Quincas Borba é um narrador onisciente, isto é, tem total conhecimento dos fatos e dos personagens. No entanto, é irônico e gosta de manipular leitoras e leitores, com quem, às vezes, dialoga.
Quincas Borba, obra publicada em 1891, é um romance monofônico e psicológico, já que a narrativa está centrada no protagonista Rubião. A obra mostra, de forma analítica, o gradual enlouquecimento desse personagem. Assim, o narrador entra em sua mente, como se fosse um cientista que busca compreender a loucura.
No livro, dividido em 201 capítulos, sobressai o tempo cronológico, já que o narrador, apesar de iniciar a narrativa no momento em que Rubião está em seu auge, conta a história do protagonista, de forma gradual, desde a sua vida em Barbacena até a sua morte. Além disso, essa obra realista apresenta caráter antirromântico, análise psicológica, crítica social e ironia.
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Título: Quincas Borba.
Ano de lançamento: 1987.
Direção: Roberto Santos (1928-1987).
Roteiro: Roberto Santos.
Fotografia: Roberto Santos Filho.
Montagem: Carlos Álvaro Vera.
Música: Manoel Paiva e Luiz Chagas.
Elenco principal:
- Helber Rangel (1944-2002) — Rubião.
- Fúlvio Stefanini — Cristiano Palha.
- Brigitte Broder — Sofia.
- Paulo Villaça (1933-1992) — Quincas Borba.
Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis) nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Era filho do brasileiro Francisco José de Assis (1806-1864) e da açoriana Maria Leopoldina Machado da Câmara (1812-1849), que viviam como agregados na chácara de Maria José de Mendonça Barroso, viúva de um senador.
O escritor, que foi tipógrafo, revisor, tradutor e funcionário público, publicou Hoje avental, amanhã luva, sua primeira peça teatral, em 1860; Crisálidas, seu primeiro livro de poesias, em 1864; Contos fluminenses, seu primeiro livro de contos, em 1870; e Ressurreição, seu primeiro romance, em 1872.
Mas foram os romances da fase realista que deram fama a Machado de Assis, um autor que iniciou sua carreira literária com obras românticas. Assim, são de sua segunda fase livros como Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e o famoso Dom Casmurro (1899).
Um dos raros homens negros a serem reconhecidos e consagrados como grande autor e intelectual no século XIX, Machado de Assis entrou para a história como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1896, e foi o primeiro presidente dessa instituição, antes de falecer em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro.
Os principais fatos históricos que levaram ao surgimento do Realismo no Brasil são:
a lei Eusébio de Queirós, de 1850, que proibia o tráfico de escravos e, portanto, abria caminho para a abolição da escravatura, ocorrida em 1888;
a Guerra do Paraguai, conflito armado que durou de 1864 a 1870 e provocou grande endividamento do Brasil;
o movimento republicano, que levaria à Proclamação da República em 1889.
Esses acontecimentos propiciaram o fim da decadente monarquia brasileira e do conservadorismo que ela representava. Com ela, também chegou ao fim o Romantismo, que cedia espaço a uma nova estética, mais comprometida com a realidade e disposta a fazer uma contundente crítica social.
Créditos da imagem
[1] FTD (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - /literatura/quincas-borba.htm