A política do café com leite foi um arranjo político entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais durante a Primeira República. Esse acordo uniu as duas oligarquias mais poderosas do Brasil com o objetivo de controlar as eleições presidenciais do Brasil, fazendo com que o governo federal permanecesse nas mãos de ambas. 1i3y2d
Nessa política, paulistas e mineiros realizaram um esquema de revezamento, em que cada oligarquia indicaria um candidato na sua vez. Durante as eleições, ambas oligarquias usavam do voto de cabresto e da fraude eleitoral para garantir que seu esquema fosse vitorioso. Esse acordo político se encerrou com a Revolução de 1930, que também marcou o fim da Primeira República.
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A política do café com leite foi um arranjo político estabelecido durante a Primeira República (1889-1930), sendo realizado pelas oligarquias dos estados de São Paulo e Minas Gerais, duas das mais poderosas nesse período. Essas oligarquias, juntas, detinham um grande poder econômico e um enorme colégio eleitoral.
Esse acordo levou esse nome porque o estado de São Paulo era o maior produtor de café do Brasil, enquanto Minas Gerais era o maior produtor de leite. Nele, as duas oligarquias formaram uma aliança para determinar a escolha do presidente do Brasil. Ambas se uniram buscando revezar o candidato que ocuparia a presidência, ora um paulista, ora um mineiro.
As duas oligarquias se utilizam do seu poderio econômico, político e eleitoral para manipular as eleições, buscando mantê-las sob controle para que o candidato representante de uma das duas fosse eleito.
A política do café com leite foi fruto da Primeira República, período da história brasileira que ficou conhecido também como República Oligárquica justamente porque as oligarquias controlavam inteiramente a política brasileira. Esse período ficou marcado por arranjos políticos, como a política do café com leite, que tinha como objetivo acomodar a política brasileira.
Esses arranjos políticos mantinham as oligarquias em relativa harmonia, evitando que disputas muito violentas acontecessem pelo poderio político. Esses arranjos estiveram presentes durante toda a Primeira República (e não somente nela), período que se iniciou em 1889, quando aconteceu a Proclamação da República, evento que encerrou a monarquia no Brasil.
A república se consolidou nesse evento e teve suas bases acertadas por meio da Constituição de 1891, promulgada durante o governo do presidente Deodoro da Fonseca. Um dos políticos mais importantes desse período foi Campos Sales, presidente entre 1898 e 1902, ao ter estabelecido acordos políticos importantes.
Entre os acordos políticos importantes estavam a política dos governadores ou política dos estados, que definia um acordo entre o governo federal e as oligarquias estaduais para que os candidatos do governo fossem eleitos e para que as oligarquias estaduais tivessem e livre para istrar seus estados.
Acordos como a política dos governadores e a própria política do café com leite foram uma forma para reduzir os conflitos entre as oligarquias, garantindo o mínimo de estabilidade política para o Brasil. O sistema político se organizou por meio de acordos que reforçavam a corrupção e a troca de favores entre as forças políticas dominantes.
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A política do café com leite era um acordo que buscava, principalmente, controlar a política brasileira, garantindo o predomínio para as oligarquias paulista e mineira nas eleições presidenciais. Os objetivos desse acordo eram:
Basicamente, a política do café com leite estabelecia um revezamento entre as duas oligarquias, determinando que ora paulistas indicariam um candidato a presidência, ora os mineiros o fariam. Como já pontuado, a união aliou a oligarquia mais rica do Brasil (São Paulo) com a oligarquia que controlava o maior colégio eleitoral (Minas Gerais).
Por meio dessa aliança, as duas oligarquias acionavam os seus coronéis durante as eleições para garantir que o candidato indicado por uma delas fosse eleito. O voto de cabresto e a manipulação das eleições eram fundamentais para que esse esquema funcionasse. Assim as duas oligarquias conseguiram eleger grande parte dos presidentes de toda a Primeira República.
Apesar da importância desse acordo político para a história da Primeira República, os historiadores têm questionado bastante até que ponto esse acordo político foi dominante nela. Isso porque, durante um tempo, se estabeleceu a ideia de que a política do café com leite foi dominante durante toda a Primeira República, mas sabemos que havia uma intensa disputa entre as oligarquias pelo poder e que a paulista e a mineira precisavam barganhar com outras regiões poderosas, como a gaúcha, a pernambucana, a baiana e a fluminense, para se sustentar no poder sem maiores conflitos.
O voto de cabresto era essencial para que a política do café com leite se sustentasse. Isso porque, para garantir que o candidato das oligarquias paulista e mineira fosse eleito, era necessário manipular as eleições. Essa era uma marca da Primeira República — a fraude eleitoral —, e todas as eleições do período contaram com ela.
O voto de cabresto era o voto obtido por meio da intimidação do eleitor ou então pela compra do seu voto com base em alguma vantagem. Esse voto intimidatório era realizado pelos coronéis e seus jagunços (figuras fundamentais nos acordos mantidos pelas oligarquias), que contavam com o fato de que o voto não era secreto.
Por meio do voto de cabresto e de outras ações, como a manipulação de atas eleitorais, as eleições eram fraudadas para garantir os interesses das duas oligarquias que formavam a política do café com leite.
A política do café com leite se encerrou na disputa pela presidência que aconteceu na eleição de 1930. O então presidente do Brasil, Washington Luís, deveria indicar o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mas ele desrespeitou o acordo indicando outro paulista, Júlio Prestes.
A oligarquia mineira rompeu com São Paulo e juntou-se com a gaúcha para lançar Getúlio Vargas para a presidência. O candidato gaúcho foi derrotado por Júlio Prestes na eleição de 1930, e a chapa de Getúlio Vargas, chamada Aliança Liberal, começou a conspirar para tomar o poder à força.
Essa conspiração deu início a um levante armado chamado Revolução de 1930, que resultou na deposição do presidente Washington Luís e no impedimento da posse de Júlio Prestes. A Revolução de 1930 foi uma consequência da quebra do acordo na política do café com leite, colocando fim na aliança entre as oligarquias paulista e mineira bem como no período da Primeira República.
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A política do café com leite foi um acordo político que foi parte importante da Primeira República, deixando algumas consequências, como:
Questão 01
Qual dos presidentes mencionados abaixo não foram eleitos com base na política do café com leite:
a) Washington Luís
b) Rodrigues Alves
c) Artur Bernardes
d) Hermes da Fonseca
e) Afonso Pena
Resposta: Letra D
A campanha eleitoral que marcou a eleição de Hermes da Fonseca foi uma das mais acirradas e tensas da Primeira República, marcando uma grande derrota para as oligarquias paulista e mineira, que viram o candidato gaúcho sair vencedor, enquanto Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Minas Gerais, foi derrotado.
Questão 02
O evento que marcou o fim da política do café com leite foi:
a) Revolta do Forte de Copacabana
b) Revolta Paulista de 1924
c) Revolução Constitucionalista de 1932
d) Revolução de 1930
e) Intentona Comunista
Resposta: Letra D
A Revolução de 1930 foi o evento que encerrou oficialmente a aliança entre as oligarquias mineira e paulista, marcando o fim da política do café com leite. Essa ruptura aconteceu porque São Paulo desrespeitou o acordo, indicando um paulista e não um mineiro para disputar a eleição presidencial de 1930.
Fontes
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
LESSA, Renato. A invenção republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.
VISCARDI, Cláudia. O teatro das oligarquias: uma revisão da “política do café com leite”. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.
Fonte: Brasil Escola - /historiab/politica-cafe-com-leite.htm