Guerra Fria

A Guerra Fria foi um conflito indireto e polarizado ocorrido entre a URSS, de perfil socialista, e os EUA, de ideologia capitalista, no período de 1947 a 1991.

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A Guerra Fria foi uma disputa de caráter ideológico combatida por duas facções antagônicas: os Estados Unidos, capitalista, e a União Soviética, socialista. Teve início em 1947, quando o presidente norte-americano Henry Truman decretou medidas econômicas, sociais e políticas para frustrar o avanço da influência socialista na Europa, ocasionando na formação de grandes blocos de alianças polarizadas — a Otan, na Europa Ocidental, e o Pacto de Varsóvia, na Europa Oriental.

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Apesar de a maioria dos Estados estar diretamente ligada a uma dessas alianças no continente europeu, grande parte do mundo se alinhou politicamente a uma dessas potências, o que gerou inúmeros golpes de Estado, ditaduras militares, guerras e revoluções por toda Ásia, África e América.

Essa guerra também foi marcada pela constante ameaça de uma guerra nuclear, a corrida espacial e uma intensa disputa de espionagem, chegando a seu fim apenas início da década de 1990, com o desmantelamento da União Soviética.

Leia também: Queda do Muro de Berlim — um marco do fracasso do bloco comunista e do fim da Guerra Fria

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Guerra Fria

  • A Guerra Fria foi uma disputa travada entre Estados Unidos, de perfil capitalista, e União Soviética, de modelo socialista.
  • Essa guerra durou de 1947 a 1991 de forma indireta, já que ambas as potências rivais nunca se confrontaram diretamente em campo de batalha, embora travassem uma intensa disputa de espionagem.
  • A maior parte do mundo ou por eventos conturbados, como golpes de Estado, ditaduras militares e guerras localizadas.
  • A posse de armas nucleares, por parte das potências beligerantes, significou tensas décadas de dissuasão, o que impossibilitou um conflito na proporção das Guerras Mundiais.
  • A polarização do mundo ocorreu quando, de um lado, países capitalistas aderiram à Otan, e de outro, países socialistas formaram o Pacto de Varsóvia.
  • Essa guerra foi crucial para o avanço de tecnologias espaciais, refletidas na corrida espacial, e da indústria bélica, configurada em uma corrida armamentista.
  • Conflitos como a Guerra do Vietnã, a Guerra da Coreia e a Guerra do Afeganistão foram consequências do atrito ideológico propagado pelas potências rivais.
  • A Guerra Fria só chegou ao término em 1991, após medidas de reformas socioeconômicas aplicadas por Mikhail Gorbatchev e que resultaram na dissolução da União Soviética.

Videoaula sobre Guerra Fria

O que foi a Guerra Fria?

A Guerra Fria, ocorrida entre 1947 e 1991, foi um conflito indireto entre duas potências ideologicamente opostas: a União Soviética, responsável pela disseminação do socialismo, e os Estados Unidos, que propagaram o capitalismo. A disputa por influência ideológica, enfaticamente investida pelas respectivas potências antagônicas, resultou em uma polarização sociopolítica de proporções globais, acirrando as chances de se iniciar uma guerra nuclear.

Apesar de um confronto aberto e direto entre soviéticos e norte-americanos nunca ter acontecido, essa guerra foi responsável por transformar profundamente a história do mundo ao propiciar conflitos secundários, revoluções, ditaduras militares, guerras civis e avanços nas tecnologias de uso tanto bélico quanto civil.

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Contexto histórico da Guerra Fria

Conforme muitos historiadores apontam, as bombas atômicas que arrasaram as cidades japoneses de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, não serviram apenas para forçar a rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial; pelo contrário, elas tinham outro objetivo: intimidar os rivais ideológicos dos Estados Unidos, ou seja, os socialistas representados pela União Soviética.

Apesar de ambos os países combaterem os nazistas na Segunda Guerra Mundial, o sentimento mútuo de desconfiança ideológica entre soviéticos e grande parte do Ocidente advinha de antes da guerra.

Mais especificamente, a fobia pelo socialismo era tanta, por parte das potências capitalistas como a Inglaterra e os Estados Unidos, que nem mesmo o nazismo preocupava tanto os seus governantes. Isso explica por que os futuros Aliados do Ocidente permitiram que Hitler se fortalecesse, afinal, a Alemanha Nazista parecia ser uma potencial parceira de combate ao socialismo soviético, além de configurar uma barreira “natural” entre Leste e Oeste europeus.

Os eventos da história se mostraram diferentes disso, no entanto: Hitler tornou-se o inimigo primário e as forças antinazistas precisaram cooperar para dar fim, o quanto antes, à guerra provocada pela Alemanha.

Ao Leste, os soviéticos contra-atacaram os alemães a partir da cidade de Stalingrado, em 1943, e os empurraram de volta até a capital do Reich, em Berlim. A Oeste, por meio de operações conjuntas dos Aliados ocidentais (a exemplo  do Dia D, em 6 de julho de 1944), os ingleses, norte-americanos, canadenses e outras nações de apoio combateram os nazistas na França e, finalmente, no oeste alemão.

A foto mostra a invasão dos Aliados na praia da Normandia, no Dia D, um dos eventos que antecederam a Guerra Fria.
A foto mostra a invasão dos Aliados na praia da Normandia, no Dia D, um dos eventos que antecederam a Guerra Fria.

A divisão geográfica que “empurrou” os nazistas de volta para a Alemanha influenciou profundamente o que viria a ser a Guerra Fria, porque, além de combater o Reich, o antagonismo ideológico entre capitalistas e socialistas significava também capturar protótipos de armamentos, recrutar cientistas aliados e dominar os territórios outrora conquistados pelos alemães.

Por isso, ao término da Segunda Guerra Mundial, a Europa já se encontrava praticamente dividida em duas partes: uma capitalista, a Oeste, e outra socialista, a Leste. A Alemanha foi igualmente dividida em Ocidental (capitalista) e Oriental (socialista).

Entretanto, a Guerra Fria só se iniciou, de fato, no ano de 1947, quando o presidente estadunidense Harry Truman apresentou a Doutrina Truman ao Congresso do país. Esse documento expunha uma declaração de combate à ideologia comunista por meio da disseminação, do investimento e de reformas do capitalismo em todos os países europeus sob sua influência, algo que resultou, em 1949, na criação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A Otan se tratava de uma aliança anticomunista e pró-estadunidense formada pela América do Norte e a maioria dos países a Oeste Europeu, recebendo o apoio e o alinhamento ideológico de nações do mundo, inclusive do Brasil, até o final da guerra.

Como resposta à aliança formada pelos capitalistas, em 1955, o primeiro-secretário soviético Nikita Khrushchev aprovou o Pacto de Varsóvia, angariando Estados-clientes em todo o Leste Europeu, além de receber o apoio e o alinhamento de diversas nações extracontinentais. Enquanto a chamada Cortina de Ferro separava a Europa em dois blocos antagônicos, o restante do mundo servia de palco para a influência de ambas as potências beligerantes.

Veja também: Quais as principais diferenças entre capitalismo e socialismo?

Quais as causas da Guerra Fria?

As causas da Guerra Fria remetem à recíproca desconfiança que ambos os antigos Aliados da Segunda Guerra Mundial — os Estados Unidos e a União Soviética — fomentaram após o término deste confronto. A partir da década de 1940, grande parte dos Estados ocidentais ou a enxergar o comunismo como um perigo às convicções neoliberalistas praticadas por seus governos, e, com isso, em 1947, o presidente norte-americano Harry Truman ou a expor medidas para evitar a influência socialista em seu país e nos países com quem os EUA mantinham parcerias comerciais.

Essas medidas, configuradas pela Doutrina Truman e o Plano Marshall, deram início à Guerra Fria por iniciarem um processo de polarização sociopolítica. De um lado, a Otan defendia os interesses do capitalismo, enquanto o Pacto de Varsóvia aderia à ideologia socialista. Os Estados-clientes, no entanto, não foram os únicos a tomarem lados; as influências de ambas as potências rivais foram exercidas impetuosamente em todo o mundo, angariando alinhamentos políticos favoráveis tanto aos Estados Unidos quanto à União Soviética.

Deve-se também ao início da Guerra Fria a distribuição das nações beligerantes sobre a Europa a partir do ano de 1945. Apesar de, nesse ano, os Estados Unidos e a União Soviética não estarem ainda em confronto, a desconfiança mútua resultada das discrepâncias ideológicas só se intensificou a partir do colapso do nazismo: enquanto o Leste Europeu estava dominado pelos soviéticos, o Oeste do continente estava tomado pelos Aliados ocidentais.

Características da Guerra Fria

As características da Guerra Fria podem ser pautadas principalmente por:

→ Polarização política

Após a Segunda Guerra Mundial, a influência socialista pelo Leste Europeu e a capitalista, pelo Oeste, levaram a maioria dos países a aderirem a um desses modelos sociopolíticos instaurados pelas facções rivais, tanto de maneira voluntária quanto forçadamente.

Esses países poderiam compor a Otan, capitalista, o Pacto de Varsóvia, socialista, o alinhamento referente a uma das ideologias rivais, ou, em alguns casos (como Índia e Áustria), a neutralidade, apesar da insistência em se influenciar ideologicamente esses países, por parte de ambas as potências, por meio da espionagem e propaganda.

O mapa mostra os países da Otan (em azul) e do Pacto de Varsóvia (em vermelho), a polarização política da Guerra Fria.
O mapa mostra os países da Otan (em azul) e do Pacto de Varsóvia (em vermelho), a polarização política da Guerra Fria.

A polarização mundial entre capitalismo e socialismo foi tão impactante que não apenas a Alemanha foi dividida em duas partes, como também a sua capital, Berlim, que foi literalmente separada por meio da construção de um muro — o Muro de Berlim.

→ Conflito indireto

As nações rivais nunca se confrontaram abertamente; pelo contrário, investiram, de diversas formas, na influência de suas respectivas ideologias ao redor do mundo, angariando Estados-clientes ou governos alinhados conforme os seus devidos modelos socioeconômicos. Essas influências resultaram em diversas consequências, como revoluções, a instauração de ditaduras, guerras civis e até mesmo guerras entre países. O motivo de as potências beligerantes nunca terem entrado em conflito direto será mais bem explicado no tópico abaixo.

→ Ameaça nuclear

A Guerra Fria foi fundamentada essencialmente em uma constante ameaça nuclear. Tanto os EUA quanto a URSS detinham inúmeros mísseis, o que significava que, a partir do momento que uma dessas facções realizasse um ataque nuclear, a outra imediatamente retaliaria com as ogivas de seu arsenal. Por isso a Guerra Fria é também assimilada a uma guerra de dissuasão, ou seja, um confronto que dissuadia uma potência à outra de lançar ataques diretos ou em grandes proporções — algo que, do contrário, resultaria em uma hecatombe nuclear e a possível extinção da vida humana na Terra.

→ Espionagem

Boneco de cera do ator Daniel Craig como James Bond, personagem inspirado na espionagem da Guerra Fria.
O icônico personagem James Bond teve como inspiração as agências de espionagem da Guerra Fria.[1]

Durante a Guerra Fria, criaram-se agências de espionagem norte-americana e soviética que tinham como objetivo desde a coleta de informações até o assassinato de alvos. Essas agências foram representadas pela CIA (Central Intelligence Agency) norte-americana e pela KGB (Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti) soviética, algo que influenciou fortemente na produção de produtos da indústria cultural, como os longas-metragens de James Bond.

→ Corrida espacial

Ambas as facções investiram em tecnologia espacial, o que resultou em uma disputa de conquistas relacionadas à fabricação de foguetes, satélites e outros dispositivos que resultassem em explorações cada vez mais profundas do espaço. Tanto os EUA quanto a URSS obtiveram conquistas nessa corrida: enquanto os soviéticos lançaram o primeiro satélite artificial (1957) e o primeiro astronauta ao espaço (1961), os norte-americanos foram os primeiros a pousarem na Lua (1969).

Sputnik I orbitando a Terra, o satélite soviético foi lançado durante a corrida espacial da Guerra Fria.
O Sputnik I soviético foi o primeiro satélite artificial colocado em órbita.

O motivo dessa disputa não era aleatório: a dominação da tecnologia aeroespacial significava a predominação da ciência balística, que estava indissociavelmente ligada à fabricação de mísseis de longo alcance. 

→ Corrida armamentista

Grande parte do que foi projetado pelos alemães para conduzir a guerra contra os Aliados na Segunda Guerra Mundial acabou sendo, quando não destruída, capturada e reaproveitada tanto por norte-americanos quanto por soviéticos: aviões invisíveis ao radar, mísseis de longo alcance, submarinos elétricos e até mesmo a bomba nuclear acabaram sendo apropriados pelas potências rivais.

No entanto, muitas das invenções aproveitadas na Guerra Fria teriam, futuramente, uso civil, como a internet, o GPS, o micro-ondas e o computador moderno. 

Por que EUA e URSS se tornaram rivais?

Os EUA e a URSS tinham modelos econômicos, sociais e políticos extremamente divergentes. Esses modelos sociopolíticos — o capitalismo e o socialismo respectivamente — baseavam-se em conceitos antagônicos.

O capitalismo, fundamentado pelos Estados Unidos, propunha o Estado mínimo na intervenção econômica, os direitos da prosperidade burguesa sobre a mão de obra trabalhadora e a asseguração de negócios de grande porte (a fim de que os lucros fossem majoritariamente destinados ao proprietário da empresa ou latifúndio).

o socialismo, propagado pela União Soviética, defendia o fim das divergências sociais oriundas da exploração burguesa da mão de obra proletária e camponesa por meio da intervenção do Estado na economia, da aprovação de direitos trabalhistas e da erradicação de propriedades privadas (isto é, empresas e latifúndios de grandes rendimentos).

A dominação da Europa Oriental no decorrer da Segunda Guerra Mundial, por parte da União Soviética, serviu de motivo suficiente para que as potências capitalistas ao Oeste do continente e do hemisfério se preocuem com o modelo soviético, já que o modelo socioeconômico do socialismo abolia as propriedades privadas (grandes empresas e latifúndios) para reformar as nuances das classes sociais, algo que se refletiu em manobras econômicas norte-americanas como o Plano Marshall.

Principais conflitos da Guerra Fria

Os conflitos ocorridos no decorrer da Guerra Fria foram indiretos, ou seja, ocorreram por meio da influência e do financiamento tanto do Pacto de Varsóvia quanto da Otan, mas nunca abertamente entre a URSS e os EUA. Entre eles, destacam-se:

→ Guerra da Coreia (1950-1953)

Significou o primeiro conflito em larga escala entre forças socialistas e capitalistas. Assim como a Europa havia sido dividida em dois blocos socioeconômicos após a Segunda Guerra Mundial, diversas zonas asiáticas, até então dominadas pelo Império Japonês, aram por uma distribuição semelhante.

Na Coreia, a porção Norte foi ocupada por coreanos socialistas, apoiados diretamente pela URSS e China, e a porção Sul, pelas tropas da ONU, especialmente formadas pelos EUA. Após três anos de conflito e quase três milhões de mortos (a maioria composta por civis norte-coreanos vítimas de bombardeios estadunidenses), Coreia do Norte e Coreia do Sul am a paz em 1953. A divisão geopolítica da Coreia é mantida dessa forma até os dias de hoje. 

→ Guerra do Vietnã (1955-1975)

Após a Guerra da Indochina, ocorrida entre os vietnamitas e os colonizadores ses nas atuais regiões do Vietnã, Laos e Camboja, a porção Norte do Estado do Vietnã consolidou um governo socialista. Os Estados Unidos viram nesse governo uma ameaça aos interesses capitalistas no Oriente, aliando-se ao Vietnã do Sul e iniciando uma guerra de atrito contra o Vietnã do Norte.

Soldados vietnamitas lutando na Guerra do Vietnã, um conflito da Guerra Fria.
A Guerra do Vietnã foi uma das disputas mais intensas decorrentes da Guerra Fria.

As táticas de guerrilha vietcongue e o apoio da União Soviética e China causaram grandes perdas aos aliados capitalistas, configurando a derrota dos Estados Unidos e a reunificação do Vietnã no ano de 1976, agora uma república socialista. 

→ Guerra do Afeganistão (1979-1989)

Assim como os demais conflitos em grande escala ocasionados pela Guerra Fria, o Afeganistão, na Ásia Central, também ou por um violento confronto entre facções polarizadas. Apesar desse país ter instaurado um regime socialista em 1978, os mujahidin sunitas iniciaram levantes apoiados pelos Estados Unidos.

Como consequência, ao final de 1979, tropas da União Soviética invadiram o país, mas, após quase 10 anos de ocupação e quase dois milhões de mortes (cuja maioria era configurada por civis), retiraram-se perante a exaustão econômica resultante do conflito. O Afeganistão, no entanto, estava longe de se tornar um cenário pacífico, tornando-se palco de duradouras guerras civis e uma “nova” Guerra do Afeganistão, iniciada em 2001.

→ Crise do Mísseis de Cuba (1962)

Não se trata de um conflito relacionado a disputas armadas, mas de um atrito que significou o ponto mais alto da guerra entre as potências beligerantes, ou seja, o momento mais tenso da Guerra Fria e com maior possibilidade de resultar em uma guerra nuclear. No ano de 1961, os Estados Unidos instalaram mísseis nucleares na Turquia, então parte da Otan, o que significava uma ameaça direta à URSS, devido ao alcance de lançamento dos mísseis, que poderiam facilmente arrasar o Estado soviético.

Como resposta, no ano seguinte, os soviéticos instalaram mísseis nucleares em sua aliada socialista na América, Cuba: uma posição estratégica que poderia facilmente atingir a maior parte do país norte-americano. A tensão só foi aliviada em 1963, quando ambas as potências concordaram em retirar seus mísseis dos países em questão. 

→ Guerras de independência africanas

Tunísia, Marrocos, Argélia, Nigéria, Serra Leoa, Quênia, Congo, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Angola e praticamente todos os outros países africanos têm algo em comum: foram colonizados por países imperialistas europeus.

No decorrer da Guerra Fria, porém, muitos desses países receberam incentivo e financiamento da União Soviética para se libertarem de seus conquistadores, o que ocasionou em violentas guerras por independência contra ses, ingleses, belgas, portugueses e outros, como a Guerra de Independência de Guiné-Bissau (1963-1974) e a Guerra Civil do Congo (1960-1965).

Fim da Guerra Fria

A Guerra Fria só terminaria oficialmente no ano de 1991, quando o Secretário-Geral da União Soviética, Mikhail Gorbatchev, aprovou a dissolução do Estado soviético. Adepto de uma ruptura com o socialismo tradicional, Gorbatchev era a favor de uma política de modernização econômica da União Soviética, algo que foi demonstrado na Perestroika (Reestruturação) em 1986: um plano que permitia a entrada de capital estrangeiro e atendia aos interesses neoliberais dos outrora inimigos ideológicos do país.

A perda de recursos econômicos da União Soviética se intensificou a partir da Guerra do Afeganistão de 1979, que, conforme comprovado mais tarde, tratou-se de uma “armadilha” norte-americana para enfraquecer o poder econômico soviético.

Alemães reunidos sobre o Muro de Berlim, em 1989, um dos maiores símbolos da Guerra Fria.
Alemães ocidentais e orientais reunidos após a queda do Muro de Berlim, em 1989, um dos maiores símbolos da Guerra Fria.[2]

Igualmente crucial para o desmantelamento da União Soviética foi, também da autoria de Gorbatchev, a Glasnost (Transparência), que concedeu a liberdade de informação e a abertura de discussões populares relacionadas ao Estado, algo que pendeu paulatinamente às questões da liberdade de expressão e à inclinação para a adoção de políticas econômicas neoliberalistas, fundamentadas principalmente pela Perestroika. Também resultantes da Glasnost, ocorreram anistias de dissidentes políticos aprisionados nos gulags e divulgação de dados sobre as vítimas, até então omitidos, do regime totalitário de Joseph Stalin.

As medidas aprovadas pelo primeiro-secretário foram bem-recebidas pela Otan, que viu em seu perfil uma oportunidade de dissolução da União Soviética. No entanto, suas medidas de aproximação com o capitalismo desagradaram à linha conservadora do Partido Comunista, que, no ano de 1991, procurou realizar um golpe de Estado contra Mikhail Gorbatchev. No entanto, a pressão popular pró-Gorbatchev, liderada pelo soviete supremo da Rússia Boris Iéltsin, era grande: em três dias, os militares do golpe debandaram.

Essa crise interna consolidou de vez a dissolução da União Soviética: Estados-clientes como Estônia, Letônia, Lituânia e Ucrânia tornaram-se independentes dos soviéticos; em 26 de dezembro de 1991, Iéltsin, em acordo com Gorbatchev, decretou a dissolução da URSS e, com isso, o fim da Guerra Fria.

Quanto tempo durou a Guerra Fria?

A Guerra Fria durou aproximadamente 44 anos. Seu início data de 12 de março de 1947 (por meio da anunciação da Doutrina Truman por parte do presidente estadunidense Henry Truman), e seu término, de 26 de dezembro de 1991 (devido à dissolução da União Soviética em 15 repúblicas).

Mapa mental da Guerra Fria

Mapa mental da Guerra Fria.

Consequências da Guerra Fria

As consequências da Guerra Fria são compostas por mudanças profundas em diversos lugares do mundo. Observe abaixo alguns exemplos.

→ Ditaduras militares

Não havia meio mais seguro para as potências beligerantes que o apoio a ditaduras militares que defendessem seus respectivos interesses. Aqui na América do Sul, praticamente todos os países aram por golpes de Estado e ditaduras de extrema-direita financiados pelos Estados Unidos a fim de conter uma possível “ameaça comunista”.

Brasil, Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru e Bolívia, por exemplo, foram alvos da Operação Condor, uma campanha apoiada pelos Estados Unidos com intermissão da CIA para a implementação de governos autoritários na América do Sul (o resultado, no Brasil, foi o Golpe de 1964, que perdurou por mais de 20 anos).

Na foto, tanques em Brasília durante o golpe da Ditadura Militar, um efeito da Guerra Fria.
Em 1964, os militares, apoiados pelos Estados Unidos, tomaram o governo brasileiro por meio de um golpe de Estado.

Embora o bloco socialista apoiasse a libertação de regimes autoritários como os citados acima, houve também Estados que adotaram o próprio socialismo para defenderem regimes totalitários, a exemplo do grupo Quemer Vermelho, liderado por Pol Pot, o autor do genocídio cambojano entre 1975 e 1979.

→ Revoluções

O conceito de “revolução” remete a transformações radicais da estrutura social de um Estado; por isso, não é incomum que a Guerra Fria tenha sido marcada por movimentos populares de ruptura com diversos governos opressores. Com isso, países de diversos lugares do mundo reivindicaram reformas sociais apoiadas pela União Soviética, como na Ásia (a exemplo da China, Coreia e Vietnã), na África (Angola, Moçambique, Tunísia, Marrocos, Argélia etc.) e na América (em Cuba e Nicarágua principalmente).

→ Avanços tecnológicos

Assim como todas as guerras de grande proporção, a Guerra Fria estimulou a pesquisa de tecnologias que pudessem ocasionar em desvantagens para o inimigo não apenas em campo de batalha como também em estratégia, logística e funcionalidade. Entre elas, podemos citar:

  • os ICBM, sigla para intercontinental ballistic missiles (mísseis balísticos intercontinentais), que consistem em mísseis de longuíssimo alcance para ataques nucleares;
  • o GPS;
  • a internet;
  • as câmeras digitais;
  • os computadores modernos;
  • a tecnologia aeroespacial, entre outros.

→ Criação de novos Estados

A dissolução da União Soviética resultou na formação de 15 novos Estados, alguns dos quais aram por diversos conflitos ideológicos ou étnicos durante os seus processos de formação. Entre eles, além da Rússia, podem-se citar:

  • Ucrânia;
  • Bielorrússia;
  • Moldávia;
  • Armênia;
  • Eslováquia;
  • Eslovênia;
  • Cazaquistão.

Saiba mais: Perestroika e Glasnost — mais detalhes sobre as medidas que levaram ao fim a União Soviética

Exercícios resolvidos sobre Guerra Fria

1. (Enem/MEC)

Embora o aspecto mais óbvio da Guerra Fria fosse o confronto militar e a cada vez mais frenética corrida armamentista, não foi esse o seu grande impacto. As armas nucleares nunca foram usadas. Muito mais óbvias foram as consequências políticas da Guerra Fria.

HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1999 (adaptado).

O conflito entre as superpotências teve sua expressão emblemática no(a)

a) formação do mundo bipolar.

b) aceleração da integração regional.

c) eliminação dos regimes autoritários.

d) difusão do fundamentalismo islâmico.

e) enfraquecimento dos movimentos nacionalistas.

Resposta: A. A disseminação de ideologias antagônicas configuradas no capitalismo (estadunidense) e no socialismo (soviético) resultou na formação de dois grandes blocos: a Otan e o Pacto de Varsóvia, respectivamente, além do alinhamento político, econômico e social de diversos países do mundo em relação a um desses blocos.

2. (ESPM-SP) Um mês depois de Donald Trump causar alarme ao reafirmar seu apoio à decisão britânica de sair do bloco insinuando que outros países podem seguir o exemplo, seu vice, Mike Pence visitou Bruxelas, onde se reuniu com Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, nesta segunda (20) com a mensagem de compromisso. (...) Pence também se reuniu com o secretário-geral da OTAN e reiterou o apoio do governo Trump à aliança. (Folha de São Paulo; 21/02/2017)

Surgida no contexto da Guerra Fria, em 1949, a OTAN é:

a) um programa de ajuda econômica que os EUA direcionam para a Europa.

b) um programa de incentivo cultural norte-americano aos europeus.

c) um programa de intercâmbio científico entre EUA e Europa Ocidental.

d) uma aliança político-militar dos países ocidentais.

e) uma aliança entre partidos políticos liberais atuantes nos EUA e Europa.

Resposta: D. A aliança conhecida como Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi um pacto firmado entre Estados Unidos e diversos países ocidentais, configurados principalmente na Europa. Esse acordo era baseado no auxílio mútuo dos países do Ocidente contra a influência socialista estabelecida no Leste Europeu.

Créditos das imagens

[1] Anton_Ivanov/ Shutterstock

[2] Lear 21/ Wikimedia Commons

Fontes

ALBUQUERQUE, Hugo. Gorbatchov acabou com a União Soviética e a Guerra Fria, mas não com a História. Jacobina, 2022. Disponível em: https://jacobin.com.br/2022/08/gorbatchov-acabou-com-a-urss-e-a-guerra-fria-mas-nao-com-a-historia/

ARBEX JÚNIOR, José. Guerra Fria: Terror de Estado, política e cultura. São Paulo: Editora Moderna, 1997.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências: Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1989.

KERSHAW, Ian. De volta do inferno: Europa, 1914-1949. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e historiografia. Curitiba: Appris Editora, 2020.

QUADRAT, Samantha V. Operação Condor: O “Mercosul” do terror. Estudos Ibero-americanos. Porto Alegre: PUCRS, v.28, n.1, p.167-182, 2002.

WESTAD, Odd. A. The Global Cold War: Third World Interventions and the Making of Our Times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

Texto sobre o que foi a Guerra Fria, com bandeiras dos EUA e da URSS como pano de fundo.
Durante a Guerra Fria, não houve confronto direto entre Estados Unidos e União Soviética.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
Escritor do artigo
Escrito por: Cassio Remus de Paula Cássio é doutor em História pela UFPR, mestre e bacharel em História pela UEPG. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia.
Deseja fazer uma citação?
PAULA, Cassio Remus de. "Guerra Fria"; Brasil Escola. Disponível em: /historiag/guerra-fria.htm. o em 24 de maio de 2025.
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Corrida espacial

A corrida espacial aconteceu entre 1957 e 1975 sendo um dos capítulos da Guerra Fria. Nela, americanos e soviéticos disputavam a hegemonia na exploração espacial.

Cortina de Ferro

Cortina de ferro é uma expressão que foi usada no contexto da Guerra Fria para se referir às nações do Leste Europeu que formavam o bloco socialista.

Crise dos mísseis de Cuba

Crise dos mísseis de Cuba se iniciou em 1962, quando a inteligência norte-americana reuniu fotos que mostraram a construção de uma base de mísseis soviéticos em Cuba.

Fim da União Soviética

O fim da URSS ocorreu em 1991 após a abertura política e econômica do governo Gorbatchev e o movimento político de Boris Iéltsin.

Genocídio cambojano

O genocídio cambojano aconteceu entre 1975 e 1979, durante o governo imposto por Pol Pot no Camboja. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas morreram em razão dessa tirania.

Grande Salto para Frente na Revolução Chinesa

Com os avanços conseguidos com o 1º Plano Quinquenal, Mao Tsé-Tung lançou o Grande Salto para Frente, com o objetivo de acelerar o crescimento econômico e social da China.

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A Guerra da Coreia foi um dos símbolos da Guerra Fria e iniciou-se em 1950, quando tropas norte-coreanas invadiram a Coreia do Sul com o objetivo de unificar a península.

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A Guerra da Indochina ocorreu, de 1946 a 1954, entre forças colonialistas sas e grupos revolucionários de libertação dos atuais Estados do Vietnã, Laos e Camboja.

Guerra do Afeganistão

Guerra dos Seis Dias

A Guerra dos Seis Dias foi um conflito travado por Israel contra Egito, Síria e Jordânia em junho de 1967. Em seis dias, Israel avançou e conquistou vários territórios.

Perestroika e glasnost na URSS

Perestroika e glasnost na URSS foram duas medidas tomadas por Gorbachev. Seus objetivos eram abertura política e mudanças estruturais na economia e na sociedade soviéticas.

Plano Marshall

Desenvolvido pelo general estadunidense George C. Marshall, o Plano Marshall foi implementado a partir de 1947, com o objetivo de reconstruir os países europeus.

Primavera de Praga

A Primavera de Praga foi uma tentativa de reforma política acompanhada por uma série de protestos populares que aconteceram na Checoslováquia em 1968. Foi reprimida pela URSS.

Queda do Muro de Berlim

A queda do Muro de Berlim foi um acontecimento marcante que ocorreu em novembro de 1989, deu início à reunificação da Alemanha e evidenciou o fracasso do bloco comunista.

Resumo sobre a Guerra do Vietnã

A Guerra do Vietnã foi iniciada pouco depois da independência do país e contou com grande presença de soldados norte-americanos a partir de 1965.

Revolução Chinesa

A Revolução Chinesa aconteceu oficialmente em 1949 e deu início às transformações responsáveis por fazer da China uma nação comunista.

Revolução Cubana

A Revolução Cubana, concluída em 1959, foi um processo revolucionário liderado por Fidel Castro e outros guerrilheiros e visava à derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista.

Revolução Cultural Chinesa

A Revolução Cultural foi uma campanha promovida por Mao Tsé-Tung que incitou a população chinesa a perseguir seus opositores e arrastou a China para o caos.