Comummente reconhecido como a “Idade da Fé”, o período medieval estabelece a consolidação do cristianismo no interior de toda a Europa. Para que compreendamos esse processo, é necessário que tenhamos primeiramente conhecimento sobre a notória organização que estabeleceu uma funcionalidade ímpar a essa instituição. Por volta de 325, membros da Igreja Cristã se reuniram na cidade de Niceia para discutir um amplo leque de questões organizacionais e espirituais.
A partir desse momento, a Igreja ou a ser portadora de uma doutrina oficial que deveria ser disseminada por um corpo de representantes espalhados em toda a Europa. No século V, a hierarquia clerical seria sustentada pelos padres, que, por sua vez, seriam subordinados à autoridade dos bispos. Acima destes estavam os arcebispos e, logo em seguida, os patriarcas das mais importantes cidades europeias. No ano de 455, o bispo de Roma se tornou papa, ando a controlar a cristandade ocidental.
Historicamente, vários documentos e obras de membros do clero prestigiavam valores de caráter ivo e subordinativo. Desvalorizando a vida terrena, reforçavam que as penúrias e condições da existência material deveriam servir de alento para a espera de uma vida espiritual abundante. Com isso, a Igreja defendeu a ordem social estabelecida argumentando que o mundo feudal refletia, de fato, os desígnios de Deus para com os seus devotos.
Paralelamente, podemos assinalar que outros dogmas, como o medo da morte, a pecaminosidade do sexo e o medo do inferno, eram de grande importância para o comportamento do homem medieval. A utilização de imagens sagradas também serviu como um importante instrumento didático para inculcar os valores de subserviência e temor ligados ao pensamento cristão. Tais ações sistemáticas foram importantes para que o número de fiéis abnegados atingisse números expressivos.
A disseminação dos valores cristãos acabou não só interferindo no pensamento religioso medieval, mas também ampliou o papel da Igreja no momento em que esta ou a controlar terras e influenciar determinadas ações políticas. Não por acaso, observamos que vários membros da nobreza e outros monarcas dessa época entregaram parte de suas propriedades como uma prova de abnegação. Com isso, o papel desempenhado pelo clero na Europa Feudal atingiu os campos político e econômico.
Sem dúvida, toda essa série de práticas, valores e ações foram determinantes na transformação da Igreja em uma instituição com amplos poderes. Desde sua gênese, percebemos que o cristianismo teve que negociar com os vários hábitos e crenças das civilizações pagãs, caso quisesse ampliar o seu número de convertidos.
Além disso, devemos mostrar que a hegemonia da Igreja esteve diversas vezes ameaçada pela organização de seitas e heresias que buscavam valores não abraçados pela doutrina oficial. No século XI, as dissidências com os líderes da Igreja Oriental culminaram no Cisma do Oriente, fato que deu origem à Igreja Católica e à Igreja Bizantina. Nos fins da Idade Média, movimentos heréticos fixaram as bases de outras tensões que marcaram a Reforma Protestante, no século XVI.
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Por Rainer de Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
SOUSA, Rainer Gonçalves.
"A religiosidade medieval"; Brasil Escola.
Disponível em: /historiag/a-religiosidade-medieval.htm. o em 25 de
maio
de 2025.
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Lista de exercícios
Exercício 1
(Puccamp) Preparando seu livro sobre o imperador Adriano, Marguerite Yourcenar encontrou numa carta de Flaubert esta frase: "Quando os deuses tinham deixado de existir e o Cristo ainda não viera, houve um momento único na história, entre Cícero e Marco Aurélio, em que o homem ficou sozinho". Os deuses pagãos nunca deixaram de existir, mesmo com o triunfo cristão, e Roma não era o mundo, mas no breve momento de solidão flagrado por Flaubert o homem ocidental se viu livre da metafísica - e não gostou, claro. Quem quer ficar sozinho num mundo que não domina e mal compreende, sem o apoio e o consolo de uma teologia, qualquer teologia? (Luiz Fernando Veríssimo. Banquete com os deuses).
A compreensão do mundo por meio da religião é uma disposição que traduz o pensamento medieval, cujo pressuposto é:
a) o antropocentrismo: a valorização do homem como centro do Universo e a crença no caráter divino da natureza humana.
b) a escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da filosofia clássica e da assimilação do paganismo.
c) o panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão, uma vez que o Universo, infinito, é parte da substância divina.
d) o positivismo: submissão do homem aos dogmas instituídos pela Igreja e não questionamento das leis divinas.
e) o teocentrismo: concepção predominante na produção intelectual e artística medieval, que considera Deus o centro do Universo.
(Puccamp) Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja ou a exercer importante papel em diversos setores da vida medieval:
a) como por exemplo nas Universidades, onde disseminaram o cultivo das línguas nacionais.
b) inclusive estimulando o avanço da ciência, sobretudo da medicina.
c) impedindo a divulgação de conhecimentos científicos através do estabelecimento do Index.
d) pois, enriquecida com as grandes doações de terras feitas pela burguesia, ou a se omitir, não se preocupando mais com a construção de Igrejas e Mosteiros.
e) servindo como instrumento de homogeneização cultural diante da fragmentação política da sociedade feudal.
“A Igreja era, com frequência, o único edifício de pedra em toda a redondeza; era a única grande construção em muitas léguas, e seu campanário era um ponto de referência. Aos domingos e durante o culto, todos os habitantes podiam encontrar-se ali, e o contraste entre o edifício grandioso, com suas pinturas, talhas e esculturas, e as casas humildes em que as pessoas viviam, era esmagador.” (Adaptado de E. H. Gombrich. História da Arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1993, p. 126.)
Neste texto, o grande historiador da arte, E. Gombrich, ressalta:
a) a importância central da religião cristã para a vida nas cidades medievais, expressa sobretudo na imponência do edifício da Igreja, se comparada com as casas comuns.
b) a indignação dos habitantes ao ver a construção da Igreja, tão imponente, em contraste com as suas casas humildes.
c) a importância do culto aos domingos, que era ecumênico e agregava cristãos, muçulmanos e judeus.
d) que a Igreja era construída com pedras porque era a forma mais fácil de construção.
e) que as pessoas humildes não queriam saber de religião, e sim das pinturas e esculturas que compunham a Igreja.
Leia o texto e, em seguida, assinale a alternativa CORRETA:
“[...] Pouco a pouco, a Europa inteira vai e põe-se a venerar os santos, 'esses mortos muito especiais' […], cuja vida exemplar e a perfeição heroica transformam os restos corporais (as relíquias) em um depósito de sacralidade, um canal privilegiado de comunicação com a divindade e uma garantia de proteção celeste, até mesmo de eficácia miraculosa. Cada diocese tem, doravante, o seu santo padroeiro: mártir ou bispo fundador mais ou menos lendário, ele é um patronus, no sentido que esta palavra tinha na sociedade romana, ou seja, um poderoso protetor capaz de cuidar de sua clientela, um personagem influente na corte celeste [...]”. (Baschet, J. A civilização feudal. Do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006, p. 63-64.).
a) o texto ressalta o caráter nocivo dos santos e bispos durante a Europa medieval, já que eles exerciam um poder exacerbado sobre sua clientela.
b) a sacralidade dos restos mortais dos santos, segundo o autor, dava a imortalidade a quem as tivesse.
c) O santo padroeiro das dioceses, segundo o autor, era uma espécie de chefe policial, que zelava pela segurança dos membros da comunidade.
d) o texto fala da autoridade espiritual dos santos, bispos e mártires da Igreja, que acabavam se tornando protetores de suas comunidades.
e) segundo o texto, o título pratronus não fazia sentido no contexto da Idade Média.